13 de setembro de 2017

falava como se esperasse que ninguém o entendesse, finalizando as frases num tom baixo e arrastado, quase melancólico, que a audiência tinha dificuldade em ouvir. pelo contrário, o orador ao lado falava num estado de exaltação permanente, com frases ritmadas em choque que nos faziam ficar em defesa, como de um ataque pessoal. nisto, entra a mais bela mulher do mundo. uma eletricidade frenética percorre-me o corpo, sou completamente distraída do motivo da reunião para não dizer da existência. a sua beleza atinge-me em pleno no coração aliviando-o de todas as mágoas, feridas e máculas. enquanto se move e fala, sinto-me diante de uma aparição divina que veio ao mundo só para mim. reparo na sua postura indolente, despreocupada. esta mulher traz com ela um tempo que se anula. a cor transparente dos seus olhos e o cabelo em desalinho, que esculpe em diferentes penteados sucessivos, não são deste mundo. dando ares da pessoa mais segura do mundo, falo-lhe e ela o que faz? cora. de olhos no chão e um sorriso tímido no rosto, cora tanto que olho para as suas mãos para ver se não coraram também.